Nico como profissional
Nico como o Grande Contrabaixista, como um músico, como uma figura de destaque, não só no Brasil, agora que eu estou morando fora do Brasil eu vejo como realmente uma figura de destaque mundial. Depois eu falo do Nico como relacionamento dele com amigos parentes e depois um pouco do nosso relacionamento
O Nico como um músico, essa era a minha visão; músicos, parentes e fãs podem ter visão diferente, a minha opinião do Nico como músico era de um ser perfeito.
Perfeito em dois sentidos:
Cada vez que eu via e que eu ainda vejo o Nico tocando, eu não consigo separar duas coisas – Nico e o Instrumento – Nico e contrabaixo eram uma coisa só, como se eles tivessem se unido verdadeiramente, como se um fizesse parte do outro. O dedo que toca a corda e a corda que penetra o dedo.
É assim que eu vejo o Nico profissional. Ele sempre buscou o estudo, não me lembro de um dia na nossa casa que o Nico não tivesse entrado no estúdio pequenininho dele para estudar. E ele estudava, ele tocava, ele ouvia… todos os dias. Não me lembro de um sábado, domingo ou feriado que ele não tenha tirado um dia para estudar. Exceto quando viajavamos de férias que ele relaxava. A capacidade que ele tinha de buscar aprimoramento é nítido no trabalho que ele deixou, sabemos que muito mais ele teria feito, se mais tempo ele tivesse tido.
O Nico estudava tanto, e ele era tão ávido por conhecimento que ele se tornou um dos primeiros técnicos amadores em Macintosh. Ele gostava de trabalhar com Macintosh. Eu tenho ainda o primeiro Mac. Ele abria, e pesquisava e os amigos musicos muitas vezes iam lá pra casa e levavam computadores e ele gastava horas tentando resolver o problema, buscando a solução pro problema do amigo. E ali eles riam, tomavam café, fumavam, tomavam whisky.
Ele dava suporte a todos os musicos, inclusive iniciantes e ele nunca cobrou nada, só recebia dinheiro tocando. Muitas vezes insistí com ele que a gente pudesse pensar num pequeno negócio, porque ele tinha uma habilidade com computador, com Macintosh que era impressionante, e ele muito seriamente um dia olhou prá mim e disse: “Rô, eu nunca vou fazer nenhum dinheiro que não seja com o meu trabalho. O meu trabalho é o contrabaixo, essa é a minha fonte de renda. Não penso em outra.”
E assim foi, assumo que tinha dificuldade em aceitar isso. Hoje eu sinto que foi uma grande lição. Ele dizia: “Eu sei o que eu quero, não importa se com isso eu vou fazer a quantidade de dinheiro que eu penso que eu mereço. Mas é assim que eu vou fazer a minha vida.”
Relacionamento com amigos
Perdoe-me se eu for injusta ao não citar alguns nomes, mas o relacionamento com o Luiz Avellar, Ricardo Silveira, Nelson Faria, Cláudio Guimarães, Daniel Cheese, Kiko Freitas, muitos outros perdão se num consegui lembrar todos, era fantástico, eram grandes amigos deles.
Quando Nico viajava a gente se falava no hotel e eu pesquisava, mandava emails informando os pontos turísticos que eles podiam ver. E ele chegava com fotos e muitas histórias para contar. E se deixasse ele ficava dias contando, porque ele vivia muito intensamente cada momentos dessas viagens.
Nos 6 anos e pouco que tivemos juntos ele teve um trabalho bastante intenso com o João Bosco. O João e o Nico me pareciam dois irmãos que tinham opinões diferentes em muitas coisas mas que se completavam e que se respeitavam mutuamente. A Maria João eu me lembro do contato do Nico, o Michel Legrand que nós fomos jantar uma noite, eu, Mariana, Nico, Boto e o Michel Legrand. E o Michel claramente tem uma admiração grande pelo Nico e eu tive oportunidade de presenciar isso. Fizemos uma viagem para a casa do Ivan Lins, também com o Michel Legrand e eu me lembro de muitos sorrisos, gargalhadas, muito trabalho, mas muita alegria.
O Nico no dia a dia era uma pessoa exigente e de estupim curto. Era capaz de fazer criticas e colocações fortes em relação a qualquer coisa ou assunto, política nacional e internacional, sobre qualidade de musica de pessoa famosa, com indice de venda muito grande e achar problemas, porque ele conhecia, ele sabia. Isso também valia para terceiros.